Uma das maiores inovações foi, portanto, uma cripto moeda baseada na rede Ethereum chamada Exposure. O nome em si é uma piada baseada neste comic do fenomenal The Oatmeal, e acaba por ser um bocado meta, visto que exposure é basicamente o que se ganha na hackathon do Pixels Camp.
Basear o resultado de uma hackathon num sistema de mercado – ainda para mais usando blockchain – deve ser das ideias mais loucas da história das hackathons. Tinha todo o potencial para ser espectacular, como acabou por ser, como um desastre: bastava que a comunidade simplesmente não aderisse ao conceito.
As cripto moedas ainda têm um longo caminho a percorrer em termos de usabilidade. Criar uma carteira virtual, guardar uma chave privada ou uma frase mnemónica que é preciso usar a cada transacção, inserir longos identificadores alfanuméricos para onde queremos fazer as transacções – uff, que trabalheira.
De qualquer forma, correu optimamente. A malta criou carteiras, andou à caça dos badges para obter mais EXP, investiu nos projectos, e até comprou e vendeu serviços. A Rosana ainda fez umas lecas a vender designs e tatuagens (yep, tatuagens), e houve pelo menos dois projectos cujo conceito era precisamente a venda de serviços usando os smart contracts da blockchain: Boothchain, uma cabine fotográfica com impressão térmica, e If Pay Then Play, do inefável Luís Correia e demais Lobsters, uma máquina de arcade. Estes projectos tinham a particularidade de se auto-financiarem: aquilo que as pessoas pagavam – e ainda pagaram algumas – era directamente investido no projecto.
A nossa equipa pensou no mesmo, mas ao invés de fazermos disso o nosso projecto principal (já estávamos mais ou menos decididos pelo que veio a ser o mysmart), seria um meio de financiamento. Brincámos com o conceito de um smart contract emulando uma roleta de casino durante a tarde de quinta-feira, mas depois acabámos por nos focar apenas no projecto.
O único problema que detectei em todo o conceito, e que nem sequer está relacionado com o facto da moeda ser baseada em blockchain, é que não há qualquer incentivo para investir noutros projectos que não o nosso. Inclusivamente, fiz notar isso mesmo ao Celso durante a apresentação mais aprofundada que fez do conceito.
Pode alegar-se que há sempre gente que não participa em projectos, e há, embora o foco na hackathon seja tão grande que nem deveria contar. Há, na realidade, um microincentivo, que é o facto do investidor que obtiver maior retorno ganhar um prémio, mas a proporção da distribuição é tão desbalanceada, que esse investidor vai acabar por ser um membro do projecto que efectivamente ganhou a competição.
Poderia haver incentivos maiores; por exemplo, as carteiras e o seu valor depois da redistribuição podiam transferir-se para eventos subsequentes, embora isso levantasse novas classes de problemas: qualquer membro dos primeiros três ou quatro projectos ficariam automaticamente a ser super-investidores, o que levaria a que os projectos deles ganhassem novamente no ano a seguir, independentemente do mérito. As soluções para isto seriam cada vez mais complexas e confusas (um membro não podia investir no seu próprio projecto, tendo que existir uma CMVM específica para o evento).
Basicamente, temos aqui uma situação em que não gosto nada de me encontrar: identifiquei um problema para o qual não tenho solução (ou as que tenho são foleiras).
O capitalismo é complicado.